Conformo vimos anteriormente, o coeficiente de aglomeração e o tamanho médio do caminho em redes WS tem um comportamento peculiar com o aumento de p. Neste artigo, veremos que este efeito é similar para redes GWS.
O tamanho médio do caminho na rede GWS se comporta de forma semelhante ao que ocorre nas redes WS padrão, isto é, o tamanho médio do caminho decresce exponencialmente com a probabilidade de redirecionamento p, conforme mostra o gráfico abaixo. Nesta figura temos o tamanho médio dos caminhos padronizado pelo valor do tamanho médio dos caminhos na rede GWS com p=0. O gráfico compara os resultados para redes GWS com n=500 e k=4 (círculos pretos) e para k=10 (cruzes vermelhas).
Além do decrescimento exponencial, outro aspecto a ser notado na figura acima é que o aumento de k leva a uma diminuição do tamanho médio dos caminhos. Na realidade, este é um resultado conhecido das redes k-regulares, já que o aumento do número de arestas reduz os caminhos na rede. Também se observa no gráfico os seguintes resultados:
- Quando p \to 0 o tamanho médio dos caminhos (TMC) pode ser estimado por TMC = \frac{n}{2k}, pois se trata de uma rede aproximadamente k-regular;
- Com um pequeno aumento do valor de p, o tamanho médio dos caminhos diminui devido ao efeito da reconfiguração aleatória dos enlaces;
- Conforme p cresce o tamanho médio do caminho praticamente se estabiliza. Neste ponto a rede se torna praticamente aleatória e TMC \sim \frac{\log(n)}{\log(\lambda)}, conforme vimos para uma rede aleatória.
A figura abaixo mostra o comportamento do coeficiente de aglomeração de redes GWS geradas com n=100 e k=8 com diferentes probabilidades de redirecionamento. Um modelo que aproxima o comportamento do coeficiente de aglomeração em redes GWS para p pequeno é CC(p) \simeq CC(0)(1-p)^3, que é mostrado no gráfico por meio da linha tracejada.
Esta aproximação aparece primeiramente no artigo On the properties of small-world network models de Barrat e Weigt publicado no periódico The European Physical Journal B - Condensed Matter and Complex Systems em Fevereiro de 2000. Ela tem a vantagem de permitir uma análise mais simples do coeficiente de aglomeração, o que não ocorria em propostas anteriores (veja o livro de Ted Lewis para esta discussão).
Contudo, pode-se observar que, para probabilidades de redirecionamento maiores do que 0.1% o modelo proposto sofre um leve desvio superestimando o valor do coeficiente de aglomeração. Para valores altos de p (p>0,5) o modelo proposto desvia completamente dos valores simulados, sendo fortemente contra-indicado para estes casos. O erro médio absoluto deste modelo é aproximadamente 4%.
Estas análises mostram que o modelo GWS permite gerar redes fictícias bem próximas das redes reais, dado que consegue aliar o efeito small world (fenômeno que diz que redes complexas reais possuem caminhos pequenos) com a alta aglomeração na rede (fenômeno de que há uma alta probabilidade de amigos estarem ligados entre si em uma rede complexa).
Ele também ajuda a explicar que a alta aglomeração das redes reais não é propriedade derivada do efeito small world. Pode-se perceber claramente que este efeito tem causa no processo aleatório de redirecionamento dos enlaces, enquanto que a aglomeração é característica da regularidade existente na rede inicial.
O resultado acima fica mais claro, se compararmos os coeficientes de aglomeração em redes aleatórias e redes GWS, conforme pode ser visto na tabela abaixo. A tabela compara o coeficiente de aglomeração de redes GWS e G(n,m) com diferentes parâmetros de n e k. O valor de m para a rede G(n,m) equivalente, em cada caso, é calculado por \frac{kn}{2} e em todos os casos a rede GWS tem p=0,04.
Note que, em todos os casos, o coeficiente de aglomeração das redes GWS é muitas vezes maior do que o coeficiente de aglomeração das redes G(n,m) de mesma densidade, ou seja, a alta aglomeração é efeito da rede k-regular subjacente e não da aleatoriedade.
Para deixar isto ainda mais claro, considere a GWS com k=2. Neste caso a rede é um anel simples onde cada nó possui apenas dois enlaces para seus vizinhos imediatos, por isso a rede 2-regular inicial tem coeficiente de aglomeração zero, e a introdução da aleatoriedade faz com que este valor aumente apenas um pouco. O que faz com que até mesmo as redes G(n,m) tenham coeficiente de aglomeração maior.
Assim, combinando regularidade e aleatoriedade, o modelo GWS ajuda a explicar alguns dos fenômenos que vimos em redes reais. Contudo, será que as redes GWS são livres de escala? Será que nelas encontramos o fenômeno de que poucos nós concentram um grande volume de vizinhos (em outras palavras, possuem grau muito alto) e a maioria dos nós possuem um pequeno baixo volume de vizinhos? Isto responderemos em nosso próximo artigo.
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