A distribuição do grau no modelo GBA

Nos artigos anteriores (aqui e aqui) apresentamos o modelo GBA e introduzimos a ideia de que este modelo consegue gerar redes complexas livres de escala. Neste artigo pretendemos verificar esta propriedade por meio de alguns experimentos.

A distribuição do grau da rede GBA, como já apontado, segue uma distribuição lei de potência do tipo k^{-q}, com 2 \le  q \le 3. Uma aproximação bastante usada na literatura para a distribuição do grau em uma rede GBA é dada por

P(d_i=k) = \frac{2\Delta m (\Delta m+1)}{k(k+1)(k+2)}

Este modelo é uma aproximação introduzida por Mark Newman no artigo The structure and function of complex networks publicado em 2003. Mark Newman é um físico com importantes contribuições na área de sistemas complexos, por sinal, é autor do livro Networks cuja segunda edição é de 2018, portanto bem recente, e que cobre um amplo espectro de assuntos sobre a ciência das redes.

O racional do modelo é que ele é uma consequência direta do saldo médio de nós com grau k quando cada nó é inserido na rede GBA. Ao inserirmos um nó na rede, uma parte dos nós de grau k-1 muda para o grau k e uma parte dos nós, deixa de ter grau k e passa a ter grau k+1. Portanto, a diferença entre estas quantidades vai determinar para onde caminha, em média, a distribuição P(d_i=k). Mais detalhes desta derivação estão no artigo de Mark Newman.

Um ponto importante deste modelo é que ele mostra que para um valor grande de k e um valor de \Delta m constante é uma lei de potência com q = 3. Assumindo que \Delta m = 3, temos que P(d_i=k) = \frac{24}{k^3 + 3k^2 + 2k}. Assim, de fato, a probabilidade P(d_i=k) cresce com O(k^{-3}). Outro ponto importante é que o modelo aponta que a distribuição segue uma lei de potência independentemente do tamanho da rede GBA.

O gráfico abaixo compara a distribuição do grau medida em uma rede GBA simulada (cruzes pretas) com n=100.000, \Delta m  = 3, n_0 = 3 e m_0 = 3 com a distribuição obtida pelo modelo de Newman (linha tracejada em vermelho). O resultado ilustra a precisão do modelo para redes GBA.

Olhando para outras medidas da rede gerada acima, vemos que o grau médio é \lambda = 5,99982, que o grau do Hub é d_{max} = 957 (não mostrado no gráfico acima, que está limitado ao grau 500), que o percentual de nós com grau abaixo da média é dP(d_i<\lambda) = 71,49\% e que o percentual dos nós com grau acima de 3 desvios-padrão da média é de P(d_i>\lambda+3\sigma) = 0,9\%. Estas medidas demonstram a grande disparidade do grau dos nós, que é uma característica marcante nas redes complexas que estudamos anteriormente.

A respeito do grau médio, podemos ainda estimá-lo com bastante acurácia. Sabemos que \lambda = \frac{2m}{n} e que, para n grande, a quantidade de enlaces da rede GBA pode ser aproximada por m \simeq n \Delta m. Assim, o grau médio em redes GBA pode ser estimado por \lambda \simeq \frac{2n\Delta m}{n} = 2\Delta m. Como podemos ver, este valor é bastante preciso para o caso da rede anterior em que \Delta m = 6. A Tabela abaixo mostra o grau médio para redes GBA com diferentes parâmetros de n e \Delta m (em todos os casos, n_0 = m_0 = 3).

\Delta mn\lambda2\Delta m
210003,9944
215003,9964
220003,9974
225003,9984
410007,9808
415007,9878
420007,9908
425007,9928
6100011,95812
6150011,97212
6200011,97912
6250011,98312
8100015,92816
8150015,95216
8200015,96416
8250015,97116

Pode-se perceber que o modelo se adéqua bem aos diferentes casos e que o tamanho da rede (desde que seja um valor suficientemente alto) influencia pouco na variação de \lambda.

A partir destes resultados podemos ver que as redes geradas pelo modelo GBA são livres de escala. Nos próximos artigos discutiremos outras propriedades das redes GBA.

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